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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

UM BELO EXEMPLO DE RESPEITO AOS MAIS VELHOS


EM DEFESA DA TRADIÇÃO.

UM BELO EXEMPLO DE RESPEITO AOS MAIS VELHOS, TUDO AO SEU DEVIDO TEMPO, NADA É POR ACASO TEMOS QUE RESPEITAR AS TRADIÇÕES E PRINCIPALMENTE RESPEITAR OS NOSSOS AMADOS E SÁBIOS ANCIÕES.  
Todos nós já ouvimos dizer que no Candomblé, tempo é posto. Na verdade,tá diretamente relacionado com o conhecimento humano e a construção da trajetória do individuo, a sua história. De acordo com este entendimento, o mais velho deve ser sempre respeitado, pois, o seu tempo de vida lhe permitiu conviver mais com a realidade de sua comunidade, vivenciando experiências, acumulando saberes e adquirindo competências. Com o passar dos anos, os mais velhos vão acumulando um conjunto de saberes a que os mais jovens somente terão oportunidade de conhecer à medida que vivenciarem também a mesma realidade e a mesma experiência.
Portanto, no Candomblé, de nada vale o conhecimento sem que haja a experiência de vida. O aprendizado não pode ser visto como um ato isolado da vida, ou seja, não basta aprender, há que se colocar em pratica e vivenciar as experiências daquilo que se aprendeu. Quanto mais tempo se convive e se pratica aquilo que aprendeu mais respeitado é o individuo dentro do Candomblé. Por isso é que se diz que o tempo é posto, pois, ser mais velho pressupõe saber certo, fazer mais e melhor.
Os povos africanos que deram origem ao Candomblé Jejê-Nagô, conheceram muito tarde a escrita, somente depois da colonização britânica, que ocorreu no século XIX. Com isto, a transmissão de conhecimento sobre lendas e mitos, louvações ao sagrado, provérbios, encantamentos, receitas medicinais, botânica, etc., sempre foi realizada de forma oral, dos mais velhos para os mais novos, que tinham a obrigação de memorizar tudo que aprendiam.
No Candomblé esta realidade se apresenta até hoje. Tudo na religião se aprende por repetição, por vivência, convivência e experiência que vão sendo permitidas e assimiladas de acordo com o tempo e com a idade de Santo do aprendiz. Aqui, como na África dos iorubás, os velhos são os sábios e o desenvolvimento da vida comunitária depende fundamentalmente do seu conhecimento sobre os mistérios que envolvem a relação com o sagrado. Em resumo, são os mais velhos que detém o conhecimento dos segredos e da tradição religiosa da sua comunidade, portanto, sua palavra é única e reflete todo o seu saber, a verdade e, sobretudo, a sua experiência e vivencia da realidade que se apresenta.
Já a cultura ocidental moderna prioriza e valoriza o aprendizado em escolas, onde o individuo aprende o conteúdo desejado de forma rápida, racional e impessoal, em um tempo extremamente curto. O saber é estimulado e disponibilizado a todos de forma igualitária, transformando-se em direito universal. Além disto, os jovens são estimulados a saber mais e de forma mais rápida do que os mais velhos. Na cultura ocidental, o saber está muitas vezes fora de casa, fora da família. O conhecimento não é visto de forma definitiva, ou seja, não é eterno e se modifica a cada instante, através de novas descobertas, novas teorias e novas ideias. Tudo completamente ao contrário do que vivenciamos na cultura iorubá, a base do candomblé.
Nesta realidade ocidental, o velho, ao invés de sábio, é visto como um indivíduo estagnado, do atraso, da aposentadoria, do abandono da vida intelectual e produtiva. O jovem não aprende mais com o mais velho, aprende com a internet, com os livros, enfim, com a escrita. Agora, com a navegação na internet sem qualquer limite, tudo está ao alcance de todos, nada mais é segredo e não é preciso esperar para aprender. Aprende-se de tudo no tempo que se quer. A informação está ao alcance de todos, seja ela verdadeira ou não.
O que assistimos hoje no Candomblé é exatamente este conflito que vemos na sociedade entre o novo e o velho. De um lado o mais jovem, estimulado por sua realidade, que o impulsiona rapidamente a adquirir conhecimento, consome livros, pesquisa na internet, trocam segredos em redes sociais, expõe o sagrado de forma pública, não respeita mais a hierarquia, questiona a legitimidade do conhecimento dos mais velhos, não querer se submeter ao tempo de espera natural e nem tão pouco aceita os limites impostos pela sua idade. Do outro lado, os mais velho resiste bravamente ao impulso dos mais novos, tentando preservar a cultura e a tradição do Candomblé praticado por seus antepassados e de acordo com aquilo que aprendeu e vivenciou durante toda a sua vida religiosa.
A Casa de Oxumarê entende que a vivência e a convivência são molas-mestras que possibilitam e impulsionam o conhecimento justo e adequado da religião e que nenhuma literatura supera a experiência de se aprender fazendo, vendo ou participando do dia-a-dia da realidade de uma casa de Candomblé. O tempo do Candomblé é o tempo do Orixá, a quem devemos obediência e respeito.
O progresso não pode mudar esta realidade, sob nenhuma hipótese. Para nós, os livros e os conteúdos de internet, servem como acervos sobre a história das religiões de matriz africana, mas não como conhecimento de uso litúrgico ou cotidiano em uma casa de Candomblé. Aliás, somos veementemente contra a exposição de vídeos e fotos do sagrado, que achamos desnecessárias, desrespeitosas e em desacordo com as nossas tradições e religiosidade.
Nada substitui a hierarquia, o tempo dos Orixás e a sabedoria dos mais velhos. Aliás, foi graças aos mais velhos que chegamos até aqui.
Para nós da Casa de Oxumarê, tempo ainda é posto.
Casa de Oxumarê.

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