Todo Umbandista já deve ter ouvido a frase “Umbanda é pé no chão”. Mas será que todos sabem o porquê de ficarmos descalços em nossos terreiros?
São três motivos principais:
O primeiro é que o solo representa a
morada dos nossos antepassados e quando estamos descalços tocando com os pés no
chão estamos entrando em contato com estes ancestrais e, consequentemente, com
todo o conhecimento e a sabedoria que esse passado guarda.
O segundo motivo pelo qual tiramos os
calçados é o respeito ao solo sagrado do terreiro. Imagine que vir da rua com
os sapatos sujos e entrar com eles onde nossos trabalhos espirituais são
realizados seria como alguém entrar em nossa casa carregando uma montanha de
lixo que vai caindo e se espalhando por todos os cantos. Diante desta situação
você diria o quê? No mínimo que essa tal pessoa não tem respeito por você ou
pela sua casa.
O terceiro motivo é o fato de que
naturalmente nós atuamos como “para-raios” e ao recebermos qualquer energia
mais forte, se estivermos descalços sem nenhum material isolante entre nosso
corpo e o chão, ela automaticamente se dissipa no solo. É uma forma de garantir
a segurança do médium para que não acumule ou leve determinadas energias
consigo.
Além
de tudo isso podemos dizer também que realizar nossos trabalhos espirituais
descalços é uma forma de representar a humildade e a simplicidade do Rito
Umbandista.
Vale lembrar que no início este
costume, nos cultos de origem africana, tinha outro significado. Os pés
descalços eram um símbolo da condição de escravo, de “coisa”, uma vez que o
escravo não era considerado um cidadão e estava, por exemplo, na mesma categoria
do “gado bovino” das fazendas. Quando liberto a primeira coisa que o negro
procurava fazer era comprar sapatos que eram o símbolo de sua liberdade e, de
certa forma, faziam com que ele fosse incluso na sociedade formal. O
significado da “conquista” dos sapatos era tão profundo que muitas vezes eles
eram colocados em lugar de destaque na casa para que todos os vissem. No
entanto, ao chegar ao terreiro, espaço que havia sido transformado
magisticamente em solo africano, os sapatos tornavam-se novamente apenas um
símbolo de valores da sociedade branca e eram deixados do lado de fora. Ali os
negros sentiam-se de novo na África e podiam retornar à sua condição de
guerreiros, sacerdotes, príncipes, caçadores, etc.
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